Espaço
A narrativa é ambientada no sertão, região marcada pelas chuvas escassas e irregulares. Essa falta de chuva, somada a uma política de descaso do governo com os investimentos sociais, transforma a paisagem em ambiente inóspito e hostil.
Inverno, na região, é o nome dado à época de chuvas, em que a esperança sertaneja floresce. O sonho de uma vida menos miserável nasce mas só dura até as chuvas cessarem e a seca retornar. No romance, essa esperança aparece no capítulo “Inverno”, em que Fabiano alimenta a expectativa de uma vida melhor, mais digna. O retorno à visão marcada pela falta de perspectivas recomeça com o fim das chuvas, com o fim da esperança. Na obra, pode-se apontar, também, para dois recortes espaciais: o ambiente rural e o urbano. A relevância desse recorte se deve às sensações de adequação ou inadequação dos personagens em um ou outro espaço.
Fabiano consegue, apesar da miséria, dominar o ambiente rural. Incapaz de se comunicar, o personagem, desempenhando a solitária função de vaqueiro, não sente tanto as consequências de se exprimir por poucas palavras. Além disso, conhece as técnicas de sua profissão, o que lhe dá uma sensação de utilidade. A passagem em que seu filho o admira ao vê-lo trabalhando deixa claro isso. Na cidade, porém, Fabiano vivencia, a cada nova experiência, o sentimento de inadequação. Os capítulos “Festa” e “Cadeia” ilustram bem essa sensação.
Personagens
Fabiano (protagonista): Nordestino pobre, marido de Sinhá Vitória, pai de dois filhos. Procura trabalho desesperadamente, bebe muito e perde dinheiro no jogo. Possui grandes dificuldades linguísticas, mas é consciente delas. Homem bruto com dificuldade de se expressar, possui atitudes selvagens. Por não saber se expressar entra num processo de isolamento, aproximando-se dos animais, com os quais se identifica melhor.
Soldado Amarelo (antagonista): Corrupto, oportunista e medroso, o Soldado Amarelo é símbolo de repressão e do autoritarismo pelo qual é comandado (ditadura Vargas), porém não é forte sozinho; sem as ordens da ditadura, é fraco e acovarda-se diante de Fabiano.
Sinhá Vitória (secundário): Mulher de Fabiano, sofrida, mãe de dois filhos, lutadora, sonhadora e inconformada com a miséria em que vive, trabalha muito. É a mais inteligente de todos controlando assim as contas e os sonhos de todos.
Filho mais novo e Filho mais velho (secundários): São crianças pobres e sofridas que não tem noção da miséria em que vivem. O mais novo vê no pai um ídolo, sonha sobressair-se realizando algo, enquanto o mais velho é curioso, querendo saber o significado da palavra inferno, desvendar a vida e ter amigos.
O dono da fazenda (secundário): Contrata Fabiano para trabalhar em sua fazenda, desonesto, explorava seus empregados.
O fiscal da prefeitura (secundário): Intolerante e explorador.
Baleia (secundário): Cadela da família, tratada como gente, humanizada em vários momentos e muito querida das crianças.
Tomás de Bolandeira (secundário): Aparece somente por meio de evocações, é tido como referência por Fabiano e Sinhá Vitória.
Seu Inácio (secundário): Dono do bar.
Enredo
A história em Vidas Secas começa com a fuga de uma família nordestina da seca do sertão. Fabiano, o pai da família, não tem aspirações nem esperanças de vida. Sinhá Vitória é a mãe, é mais “madura” do que seu marido Fabiano, também não se conforma com sua situação miserável, e sonha com uma vida melhor. Os dois filhos e a cadela Baleia completam a família. O menino mais novo sonha ser como o pai, já o mais velho desejava a presença de um amigo, conformando-se assim com a presença de sua cadela Baleia, a qual era tratada não como um animal, mas como um ente e ajudava Fabiano e sua família a suportar as péssimas condições.
Depois de muito caminhar a família chega a uma fazenda abandonada, onde acabam ficando. Após de um curto período de chuva o dono da fazenda retorna e contrata Fabiano como seu vaqueiro.
Fabiano vai à venda comprar mantimentos e lá se põe a beber. Aparece um policial que Fabiano chama de Soldado Amarelo, que o convida para jogar baralho com os outros. O jogo acontece e numa desavença com o Soldado Amarelo, Fabiano é preso maltratado e humilhado, aumentando assim sua insatisfação com o mundo e com sua própria condição de homem selvagem do campo. Fabiano é solto e continuando assim sua vida na fazenda. Sinhá Vitória desconfia que o patrão de Fabiano estaria roubando nas contas do salário do marido. A família participa da festa de Natal da cidade onde se sentem humilhados por diversos “patrões” e “Soldados Amarelos”. Baleia fica doente e Fabiano atira nela para acabar com seu sofrimento, mas acerta na perda da cachorra fazendo com que ela sofra com a dor até falecer.
Não satisfeito e sentindo-se prejudicado com o patrão, Fabiano resolve conversar com seu patrão, este que ameaça despejar Fabiano da fazenda. Fabiano tenta esquecer o assunto e acaba ficando muito indignado. Na volta da venda Fabiano encontra o Soldado Amarelo perdido no mato. Fabiano pensa em matar o Soldado Amarelo, porém sentindo-se fraco e impossibilitado, acaba ajudando o soldado a voltar para a cidade.
A seca atinge a fazenda e faz com que toda a família fuja novamente, só que desta vez, todos vão para o Sul, em busca da cidade grande, sem destino e sem esperança de vida.
Tempo
Além da falta de linearidade do tempo, em "Vidas Secas" há nítida valorização do tempo psicológico, em detrimento do cronológico. Essa opção do narrador, tem como principal consequência o distanciamento dos personagens da ordenação civilizada do tempo.
Dessa forma, nota-se que a ausência de uma marcação cronológica temporal serve, além de elemento estrutural, como mais uma forma de evidenciar a exclusão dos personagens. Por outro lado, a valorização do tempo psicológico na narrativa faz com que as angústias dos personagens fiquem mais próximas do leitor, que as percebe com muito mais intensidade.
Desfecho
O desfecho no livro não é específico, na verdade é um ciclo. Cada capítulo tem sua história que pode ser lida em ordens diferentes pois tudo caminha para um mesmo destino: a seca que, como uma ampulheta, ao terminar de passar seu último grão de areia é virada novamente. Fabiano sempre volta à seca, além da seca de sua própria consciência, por sua falta de capacidade de se expressar e submissão ao narrador para que ele sim consiga se expressar pelo homem.
2ºB
Isabella Godoy
Manuela Giordano
Julia Leal